Ana Carolina Athanásio / Agência USP
Pavimentos porosos desenvolvidos pela Escola Politécnica (Poli) da USP são capazes de absorver com facilidade e rapidez a água da chuva e podem ajudar a reduzir os impactos das enchentes. Segundo o professor e coordenador da pesquisa José Rodolfo Scarati Martins, “os pavimentos funcionam como se fossem areia da praia e permitem que as águas cheguem aos rios e córregos com a metade da velocidade”.
Um experimento da pesquisa contendo os dois tipos de pavimento – um feito com placas de concreto e outro com asfalto comum misturado a aditivos – foi desenvolvido em um dos estacionamentos da Poli e conseguiu reter praticamente 100% das águas das chuvas dos meses de janeiro e fevereiro deste ano. O diferencial dos pavimentos porosos desenvolvidos pela Poli em relação aos já existentes deve-se ao fato de possuir uma base de pedras de 35 centímetros, a qual é responsável por reter a água por algumas horas e diminuir a probabilidade de enchentes no local.
“A impermeabilidade do asfalto comum é uma das grandes vilãs do meio ambiente urbano, pois não permite que a água seja absorvida pela terra e ajuda a causar as enchentes. Os pavimentos que desenvolvemos são diferentes, pois são capazes de devolver parte da permeabilidade ao solo e consegue absorver a água com muita rapidez”, explica Martins.
A diferença entre os dois tipos de pavimentos está na superfície – um é feito com concreto e outro com asfalto comum. “Mesmo com pequenas diferenças entre eles, ambos retém porcentagem grande de água se comparados ao asfalto convencional e funcionam de maneira muito eficaz”, salienta o pesquisador.
Um dos pavimentos porosos desenvolvido na Poli é uma mistura entre o concreto asfáltico comum e vários aditivos que permitem que sejam mantidos espaços, como poros, na superfície. Dessa maneira, a água proveniente das chuvas é absorvida por esses poros e acabam sendo retidas, por algumas horas, entre as pedras que constituem a base.
Como parte do experimento, há ao lado do estacionamento feito com o asfalto poroso um espaço, como se fosse uma caixa d’água, que recebe toda a água retida na base de pedras. “Toda a água absorvida pelo asfalto tem como destino esse local. Com isso, podemos monitorar desde a quantidade de chuva até a capacidade de retenção do pavimento”, explica.
Segundo Martins, o pavimento poroso custa 20% a mais do que o asfalto convencional , mas com sua implantação em larga escala esse preço diminuiria. “O valor que temos relaciona-se ao experimento. Quando pensamos no uso do asfalto poroso em cidades grandes como São Paulo o custo cai muito, pois seria produzido em quantidade muito maior e, consequentemente, baratearia a produção e a manutenção”, diz.
Projetos futuros
Desenvolvida com o apoio da USP e da Prefeitura Municipal de São Paulo, a pesquisa teve início em 2006 e pretende ampliar o experimento para fora do campus. “Hoje sabemos que o pavimento funciona muito bem em estacionamentos e já poderia ser implantado em shoppings e locais semelhantes. Futuramente, pretendemos fazer o mesmo tipo de experimento em ruas de tráfego leve em áreas residenciais para observarmos se o asfalto poroso funcionará da mesma forma”, diz o pesquisador.
Além disso, o grupo de pesquisa coordenado pelo professor pretende avaliar o tempo de desgaste do asfalto e a qualidade da água retida na base de pedras do pavimento. “É importante sabermos como é essa água, se ela contém algum contaminante e se pode ser infiltrada no terreno. Caso não haja nenhum aspecto negativo em relação aos contaminantes, é possível que, além de ajudar a cidade a combater as enchentes, possamos reutilizar a água da chuva para limpeza de vias públicas, por exemplo”, enfatiza Martins.
Mais informações: email jose.scarati@poli.usp.br com o pesquisador José Rodolfo Scarati Martins
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